Toda mãe de alérgico merece um psicólogo
É a mãe que amamenta o bebê e nota que ele fica estranho após as mamadas. É a mãe que percebe quantas fraudas foram trocadas por dia. É ela também que percebe durante o banho as assaduras, as manchas na pele, as caspas, as bolinhas pelo corpo. Ela é a que aguenta o choro estridente do bebê e muitas vezes chora com ele. É ela quem insiste com o pediatra que algo está errado.
A mãe sofre ao ver seu filho mal, sem saber o que está o deixando doente. A mãe recorre à internet para pesquisar os sintomas e quando o diagnóstico chega, é a mãe quem chora por saber que a vida do seu filho não será fácil. É a mãe que, na maioria das vezes, sai do emprego para garantir os cuidados especiais do alérgico alimentar.
É a mãe que faz o papel da exagerada, quando exige que nada seja ofertado à criança sem autorização. Quando imprime um informativo sobre a alergia alimentar e entrega para os familiares, amigos e professores, e todos que terão contato com a criança. É a mãe que ouve dos familiares críticas e mais críticas e muitas vezes não pode contar com o apoio nem do pai da criança alérgica. É essa mãe que abdica do status de mulher, não prioriza suas necessidades, mal dorme, mal come e abandona por completo sua vaidade.
Essa mãe de alérgico também é esposa e pode está enfrentando problemas no casamento ao mesmo tempo em que lida com alergia de seu filho, é nora, é filha, algumas vezes mãe de mais de um filho, ela cuida da casa, estuda, trabalhava e agora se preocupa com a situação financeira da família, com os gastos do tratamento da alergia. É essa mulher sobrecarregada, isolada, exausta, que merece um psicólogo!
Merece apoio de um profissional que pode orientá-la até um ponto de equilíbrio emocional.
Estar no meio do furacão, recebendo uma cachoeira de notícias e novidades ruins não é nada fácil. Reconhecer isso não é sinal de fraqueza e sim de maturidade e coragem.
O psicólogo não vai prescrever calmante ou antidepressivos, ele vai te ouvir e orientar na medida do possível.
Ouvi do pediatra do meu filho uma vez: “É preciso estar bem para cuidar de alguém. Isso significa que para ter calma, clareza, força física e mental para cuidar de seu filho alérgico e suportar todas as situações relacionadas a isso, as mães precisam estar bem. Na busca pela cura, a mãe busca os melhores especialistas para seu bebê e acaba se anulando sua própria saúde.
Algumas mães têm a sorte de encontrar um pediatra sensível à sua dor que vai ouvi-la e apoia-la, mas a maioria não terá com quem desabafar sua angústia. Se existe algo que eu, como mãe de um alérgico, mulher, esposa, nutricionista, posso dizer sobre esse assunto, é que fará toda a diferença na vida dessa mãe e, por consequência, na vida da criança.
Quando a cura chega, traz junto um alívio em saber que seu filho agora pode ir para a escola e festas sem medo das reações... Mas a mãe do alérgico alimentar mesmo sabendo que seu filho está curado, não supera o trauma do medo da morte. E vai levar meses para deixar de agir como se seu filho ainda fosse alérgico. E quando uma simples infecção na garganta chegar, ela volta a ter todo o pânico das crises alérgicas e vem à sua memória todas as idas ao hospital por reação alimentar... Essa mamãe merece um psicólogo.
Alguém que irá ouvir sem julgar, orientar sem agredir, sem ofender, oferecer um ombro amigo e ajudar a superar todas as feridas que a alergia alimentar causou em seu coração.
Eu, como a maioria das mães, não tive esse apoio durante o tempo em que Lucas era alérgico, mas quando a cura chegou e eu tive a oportunidade de conhecer uma profissional incrível que me ajudou a superar todos os danos que a alergia alimentar causou na minha vida. E que com certeza posso dizer que teria sido muito mais fácil passar todas as coisas que passei com Lucas se tivesse esse apoio emocional, como um profissional especializado como tantos outros que busquei para curar a alergia.
Então mamãe, não tenha medo, vergonha ou preconceito, procure um psicólogo!
Eu tive a sorte de conhecer uma profissional incrível, Gisele fez e faz toda a diferença na minha vida e me ajudou de forma incrível a superar todas as cicatrizes que a alergia me deixou e abraçar tudo de positivo que veio com essa vivência assustadora da alergia alimentar. E eu sou profundamente grata a ela por tornar tudo mais leve. Gisele faleceu na pandemia e hoje eu sigo sendo emocionalmente cuidada por outra psicóloga, a Marcielle, igualmente maravilhosa.
Então mamãe cuide de você também!
Beijos da Nutri Ketrin Brum